– E se eu lhe dissesse, meu bom homem, que a humanidade já não existe. Aliás, que se extinguiu faz já muito, muito tempo. Seja porque o Sol engoliu o seu sistema planetário, ou até mesmo pois, na corrida desenfreada do progresso, a Humanidade foi naturalmente vítima do que tende a acontecer sempre que se sobe um degrau na escala de Kardashev, validando assim o paradoxo de Fermi. Que todos aqueles preciosos itens que tanto lhe aprazem se perderam, se incineraram, se desintegraram, se dissolveram, se desfizeram, se eclipsaram. Enfim, acabaram. E que o cosmos fez questão de eliminar mesmo as sondas mais insistentes e aventureiras, ora com chuvas de meteoritos, ora com supernovas.









Mas... e se lhe falasse num espaço que encerra o arquivo de tudo. Tudo o que o homem fez, viveu, descobriu, sonhou. Uma totalidade abrangida por um lugar muito especial, onde não há sujeito possível dentro do espaço da realidade que pudesse ocupar um ponto de vista. Estaria perante a construção de um lugar de subjetividade impossível, uma subjetividade que confere à própria objetividade um aroma de mal indizível e monstruoso. Um sítio onde se o espaço for infinito, estamos em qualquer ponto do espaço, assim como o tempo. Mas uma coisa é saber que tal sítio existe e outra completamente diferente é saber como lá chegar...
– E como posso... – comecei a preguntar. No seu esgar perene, a pequena caveira interrompeu-me, respondendo dentro da minha mente. – Arkhé é insular. Uma viagem implica pagar o seu preço em sangue. Em dor.






Um projeto de Jerónimo Rocha desenvolvido no contexto de Doutoramento em Artes Plásticas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.